OBEDIÊNCIA POR FÉ
O livro de Romanos é uma das mais ricas e difíceis epístolas de Paulo. Ela mostra claramente o problema do pecado e a única solução: a graça de Deus através de Jesus Cristo. Paulo argumenta eficazmente que ninguém será salvo por obediência à lei do Velho Testamento.
A salvação é pela fé.
Infelizmente, alguns distorcem esta ênfase na fé para tentar negar a necessidade de toda obediência. Paulo mostra claramente que somos salvos pela fé e não pelas obras de mérito, isto é, jamais podemos ganhar nossa salvação. Ele não sugere, contudo, que a salvação é possível fora de nossa obediência.
Onde muitos têm tentado separar a fé da obediência, Paulo liga-as. A fé verdadeira é fé obediente. Considere três textos em Romanos que demonstram esta importante relação da fé com a obediência.
"... por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre todos os gentios" (Rom 1:5).
"Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo" (Rom 10:16-17).
"... e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações" (Rom 16:26).
Fé e obediência são tão inseparáveis que as palavras são mesmo usadas uma pela outra. Compare estes dois comentários de Paulo: "Primeiramente, dou graças a meu Deus, mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque, em todo o mundo, é proclamada a vossa fé" (1:8).
"Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso, me alegro a vosso respeito..." (16:19).
O que podemos aprender?
Se cremos verdadeiramente em Jesus, vamos obedecê-lo sem hesitação. O verdadeiro discípulo não tem motivo para separar o que Deus uniu. Fé e obediência não funcionam independentemente. Tiago nos diz o que acontece se tentamos separá-las:
"Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta" (Tiago 2:26)
O Propósito da Obediência - “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Deuteronômio 29:29)
A palavra de Deus não é nos dada para o propósito de especulação sem ação, mas para o propósito da obediência.
Nós nos apropriamos erroneamente da verdade que Deus revelou quando a tornamos meramente o motivo de um debate intelectual. O propósito maior das Escrituras – exigindo mais esforço e prometendo uma recompensa mais rica – é fornecer os materiais práticos para construir uma vida melhor, mais obediente. Quando estudamos, devemos procurar estas informações para serem obedecidas. Estudar por qualquer outro motivo é, na verdade, perigoso.
Em relação à obediência, um problema é que demoramos em obedecer aquilo que já aprendemos das Escrituras porque não conseguimos ver tão longe quanto gostaríamos de ver na estrada teórica.
Talvez não entendemos completamente por que Deus exigiria tal coisa como as Escrituras indicam. Ou pode não estar claro para nós quais seriam as conseqüências se aceitássemos a palavra de Deus sem questionamento. Ou podemos não ver como este ou aquele ato de obediência se encaixa no plano geral da vontade de Deus.
Não há falta de obstáculos, mais ou menos teóricos, que podem atrapalhar o aluno sério que não só quer obedecer, como também deseja entender o que está sendo feito. A ironia do crescimento, contudo, é que a compreensão vem de levar adiante a nossa obediência ao invés de segurá-la.
“A compreensão pode esperar, a obediência não pode”.
Um outro problema relacionado à obediência é que, muitas vezes, demoramos em fazer o nosso dever até acharmos que está tudo certinho. Podemos pensar que é necessário progredir mais na área da teoria espiritual antes de conseguirmos melhorar na área da prática espiritual. E assim nós demoramos nas muitas coisas abstratas, buscando a força necessária para a vida obediente.
Porém, o caminho para a satisfação de progresso espiritual vai por meio da obediência honesta daquilo que já sabemos ser certo, não pela trilha sinuosa de curiosidades teóricas. Não podemos buscar a Deus sem usar as nossas mentes de acordo com toda a nossa capacidade, é verdade. Mas nem podemos encontrar a Deus sem cumprir aquilo que as nossas mentes já aprenderam.
A coisa mais importante na vida não é evitar os erros, mas sim praticar a obediência da fé. Pela obediência, o homem é levado passo a passo a corrigir os seus erros, enquanto nada acontecerá com ele se ele não começar.
Escondendo-se de Deus - “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19:10).
Deus está ansioso para que nós o encontremos. Nós estamos ansiosos para que ele nos encontre? Da mesma forma que devemos conhecer a Deus, devemos permitir que ele nos conheça (1 Coríntios 8:3). Nosso privilégio não é somente assegurar a vida eterna, mas também permitir que sejamos assegurados por Deus (Filipenses 3:12).
Não devemos apenas buscar a Deus, como também devemos estar cientes de que ele nos busca (Mateus 18:10-14).
Como Adão e Eva, muitos de nós preferimos nos esconder de Deus. “Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim” (Gênesis 3:8).
Tendo sido feitos na sua imagem, ainda ansiamos profundamente por Deus. Mas tendo pecado, também estamos envergonhados e com medo. Há uma grande tentação para que nós fujamos.
Falando literalmente, de certo, não há como fugir de Deus. “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hebreus 4:13). A única questão é de se lidaremos de maneira honrável com a verdade quando Deus nos confronta com isto.
O propósito gracioso de Deus é que cresçamos na santidade, que significa crescer para ser como ele no nosso caráter íntimo. Este crescimento pode ser atingido apenas se aceitarmos a verdade sobre o que ele vê em nós agora e nos entregamos ao seu amor remediador. Tanto o diagnóstico quanto o tratamento provavelmente envolverão dor séria.
Mas não deveríamos desejar o que Deus quer de nós tão apaixonadamente quanto desejamos o que queremos de Deus? Não deveríamos querer crescer em caráter tanto quanto queremos conforto, e santidade tanto quanto queremos a felicidade?
Tais coisas boas podem chegar a nós apenas por meio da verdade.
Não há outra maneira. Não há um substituto aceitável para a realidade. “Sonda-me ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Salmo 139:23-24). Sem tal honestidade, não há crescimento em direção a Deus.